Se você ouvir podcast sobre escrita e ler textos sobre técnicas literárias por tempo suficiente, irá se deparar com algumas máximas. Esteja livre para aplicá-las ou não. Eu já li e ouvi o suficiente para não lembrar por qual fonte eu tomei conhecimento da noção de que “Premissa ≠ História”. Se fosse para apostar uma grana eu colocaria no podcast Gente que Escreve, na época em que batiam papo Fábio Barreto e Rob Gordon.

Uma premissa é uma ideia. Um “e se”.

E se existissem dinossauros?

E se pudéssemos voltar no tempo?

E se tivéssemos superpoderes?

Você com certeza já deve ter tido uma ideia (muito boa, tenho certeza) e pensou: “isso daria um bom filme/livro/quadrinho/jogo/etc. Isso daria uma boa história.”

Mas provavelmente, a sua ideia era apenas uma premissa. E histórias são mais que apenas premissas. Os três exemplos que eu dei acima? Tenho certeza que você achou que dariam boas histórias, principalmente se você ligou as frases com obras de sucesso que chegaram a você.

Dinossauros? Eu estava falando de Jurassic Park ou Senhores dos Dinossauros?

Viagem no tempo? É O Fim da Eternidade, Dark ou De Volta Para O Futuro?

E superpoderes, é My Hero Academia, Wild Cards ou X-Men?

Vamos focar nos dinossauros. As duas obras citadas possuem a mesma premissa: dinossauros convivendo com seres humanos. Mas é só.

A história de Jurassic Park (o filme) tem as seguintes premissas: Extraíram o DNA de dinossauros de um inseto, reproduziram vários dinossauros, criaram um parque temático em uma ilha, um funcionário rouba tenta roubar a ilha, os visitantes ficam presos na ilha e precisam escapar com vida.

Já em os Senhores dos Dinossauros temos: Tecnologia da idade média, feudos e reinos organizados sob um império, pessoas que montam e usam dinossauros para combates, pessoas que treinam os dinossauros, um reino dissidente, um lorde revoltoso com a cabeça à prêmio, uma princesa refém de suas obrigações.

Bem diferentes hein.

Uma história, uma boa, nasce quando você junta várias premissas que por si são interessantes.

É aí onde entra o quadrinho Suicidas, publicado pela Vertigo e trazido ao Brasil pela Panini.

Possíveis Spoilers Abaixo!

Acabei de ler o Volume 2 essa semana. Diferentemente do primeiro volume, a arte não é a soberba de Lee Bermejo, mesmo artista por trás de Coringa e Lex Luthor: Homem de Aço. Ele apenas faz as capas e duas inserções na história, cujo roteiro é assinado apenas por ele.

A história das duas revistas se passa em uma Los Angeles devastada por um terremoto, o Tremendão. A cidade foi isolada. Sem água, remédio e alimentos, as pessoas sobreviveram da pior forma possível, mas sobreviveram. Dentre os sobreviventes nasceu um novo esporte. Surgido da vontade de morrer. De sair daquele buraco. Por isso os participantes desse esporte, praticamente um circo romano moderno, ficaram conhecidos como suicidas.

Um suicida tem fama e dinheiro. Enquanto se mantiver vivo. E geram muito dinheiro com apostas e transmissões de suas lutas para as grandes corporações. Uma dessas empresas, inclusive, foi a responsável por cercar toda a Los Angeles, que passou a não fazer mais parte dos EUA.

Agora, dado o panorama, vamos às premissas de Suicidas vol. 2:

  • Um suicida aposentado
  • Uma gangue de bairro
  • Uma gravidez na adolescência
  • Um repórter esportivo e uma reportagem polêmica
  • Uma espada
  • Uma reintegração de posse
  • Uma pensão atrasada
  • Um trauma de infância
  • Um canibal.

Se você não viu o canibal chegando, saiba que eu também não.

No fim de tudo, digitando esse texto, percebi uma mensagem bem forte na história que são o que os traumas da infância nos deixam de marcas. Pelo menos 3 personagens são movidos diretamente por fatos tão arrasadores quanto o Tremendão.

Espero que um dia saia um volume 3.

E por fim, como toda regra tem exceção, gostaria de lembrar uma premissa que é universal e eu tenho certeza de que todos conhecem a história a qual ela pertence:

Uma virgem engravida.

Obrigado pela leitura. Nos vemos em breve.

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